Thursday, May 25, 2006

Uma prenda inesperada

O Natal aproximava-se. Como de costume eu não tinha ainda começado a compra das prendas. Finalmente decidi-me – tirei um dia de férias, fiz uma lista das prendas obrigatórias e das mais ou menos facultativas e meti-me ao caminho, disposta a resolver o assunto. Nessa tarde percorri as ruas mais comerciais de Almada de ponta a ponta, parando e espreitando em tudo quanto era montra que pudesse, pelo menos, dar-me ideias. Quando já estava meio exausta deste calcorrear, tendo comprado uma quantidade razoável de prendas que não sabia a quem dar porque não se coadunavam com ninguém da lista, parei um pouco num café, para reavaliar a situação. Era óbvio que o assunto não ficaria encerrado naquela tarde. Seria preciso ir a outras lojas e a outros locais. Ainda assim o cansaço foi atenuado pela breve pausa e tive ânimo para continuar, parando em lojas e lojinhas a que nunca, em anteriores ocasiões, eu tinha prestado atenção. Foi o caso quando, num impulso aparentemente falho de lógica, resolvi atravessar a Capitão Leitão (uma das ruas mais conhecidas de Almada) e espreitar numa tabacaria, evidentemente, pensei, sem nada que servisse os meus propósitos. Qual não foi, porém, o meu espanto quando vi, na montra, um livro a cuja leitura do título o meu corpo inteiro foi varrido por um forte arrepio: O Drama de João Barrois. Este era um título que eu nunca tinha visto publicado. Sabia que era um dos livros preferidos do meu pai, mas ao que parece tê-lo-ia emprestado e … nunca mais lho haviam devolvido. Mas falava dele com muito apreço. A minha curiosidade sobre o livro sempre tinha sido grande, mas nunca verdadeiramente o havia procurado. E agora ele ali estava, mesmo a pedir que eu o levasse para casa. Foi o que fiz. Considerei que, de , onde quer que estivesse o meu “velho”, ele me tinha também enviado uma prenda de Natal.

Wednesday, May 24, 2006

Violência doméstica

Os números são impressionantes, sobretudo porque seguramente se tratará de uma estimativa (julgo ter percebido que se contabilizaram os casos noticiados na imprensa) por defeito – 33 mulheres morreram no ano passado, em Portugal, vítimas da dita violência.

Ocorre-me um episódio breve, relatado por uma amiga de longa data. Não me lembro do contexto da discussão, dos motivos que levaram o casal a desentender-se, ou melhor, talvez tenha procurado esquecê-los e tenha tido êxito!
Sei que a discussão levou a que a minha amiga se levantasse da cama e se refugiasse no sofá da sala. Não lhe apetecia estar acompanhada de quem a tinha ofendido, pelo menos por algum tempo. Assim, tão simples como isto. Durou pouco, o seu “capricho”. Ele chegou e apontou-lhe com o dedo o caminho do quarto, acrescentando, em tom convincente que, ou ia para o quarto ou saía pela porta da rua. A minha amiga foi para o quarto, engolindo a revolta. Os dados estavam lançados. Daí para a frente, bater para quê? Se a prepotência e o medo já estavam instalados, e a baixos custos!
Pensando bem, quantas serão as mulheres que não têm um episódio parecido com este por contar?

Saturday, May 20, 2006

Chama-se Catarina

Procuro e não encontro, nos muitos e desordenados envelopes que guardo em gavetas e armários, as fotos com o Pedro. Lembro uma em que ele, muito alto, embrulhado num cobertor, se debruça sobre a Olga, ela muito baixa… apresentam ao "público" um qualquer número que não recordo, mas, a avaliar pelas caras deles, a galhofa circundante é plena, contagiante. Era capaz de apostar (embora provavelmente perdesse a aposta) que a foto foi tirada na Estrela Vermelha, em mil nove e setenta e cinco. Aí ou noutra qualquer UCP. (Neste ponto perdoe-me quem não sabe de siglas, mas terá de arranjar explicador particular). Mas a foto teima em não aparecer, esconde-se de mim. No entanto, quem procura encontra sempre alguma coisa, quase sempre diferente do que desejava encontrar.

Aparecem-me as fotos de António Carmo, que tirei em Baleizão, num 19 de Maio igualmente distante. Penso, com grande imodéstia, que as fotos já são históricas. Nelas há cartazes, cravos, gente anónima que assim prestava homenagem a Catarina, no 20º aniversário do seu assassinato.
António Carmo morreu há poucos dias, após vida longa e sofrida. (Não me lembro de se ter queixado dela mais do que o comum dos mortais). Por razões que não vêm ao caso não pude ir ao funeral dele. Decido por isso enviar a Catarina as fotos do pai, dos cartazes com a imagem da mãe, mais daquele outro em que escreveram: Catarina, a tua luta é a nossa luta!
Uma homenagem curta, escassa, ainda assim a minha.

Tuesday, May 16, 2006

A praia é minha!

(porque já se tornava chato um post chamado S. Torpes III)

Por mais voltas que dê, o gaiolo solta-se e vai sempre dar a uma praia qualquer de S. Torpes. Desta vez faço a viagem solitária com a minha pirralha, que, de mar e rochas é tão fã como eu.
Saltamos a praia da casinha (assim chamada porque tem uma casinha ao lado da entrada da praia) e prosseguimos até à 2ª à direita, após a praia grande de S. Torpes. Não sabem onde é? Temos pena. Perdem praia com cascata de água doce (poupa-se nos banhos), rocha e Armerias em flor por todo o lado – em Maio, claro. Da velha tabuleta já quase só resta o suporte. Só quem já o soube adivinha o nome da praia – Oliveirinha. Vá lá, não posso dizer mais do que isto, além disso não cabem todos, é escusado. Não caberão, quero dizer, a partir de agora.
Quando lá chego apetece-me sempre um sítio diferente para pousar a toalha e os tarecos. O que não é difícil, apesar da pequena extensão de areia disponível. Recantos não faltam, rochas e poças de água também não.
E gritar, como o louco do Cinema Paraíso: a praia é minha, a praia é minha!
e a mais pequena rindo, rindo, rindo...

Monday, May 15, 2006

Galáxias

Acordo. Uma nebulosa em espiral rodopia preguiçosamente mesmo à frente do meu nariz, arrastando consigo milhões de corpos celestes. O que é isto? Qualquer coisa que eu conheço e não é a Via Láctea nem a M31. O mais provável é ser tensão alta. Desculpem se vos estraguei o momento poético, mas tenho de ir tomar o abaixador de tensão…

Tuesday, May 09, 2006

O Polvo, com Placido

Não sei a que propósito, vou falar de televisão.
Talvez porque a figura de Michele Placido se atravessou no meu caminho por várias vezes. E, se temos que falar de homens, já agora por que não falar de um que é uma estampa? Um pouquinho só abaixo da altura ideal, mas nada que um bom fatinho de marca não disfarce na perfeição (um comissário de polícia não teria dinheiro para o tal fato, só se fosse da máfia, mas vá lá, perdoe-se a imprecisão pelo regalo da vista).
Pois é, só apanhei o 3º episódio do velhinho Polvo, com o comissário bom (em sentido bíblico e como o milho). Está a dar na RTP Memória, aos domingos (começo a acreditar nos domingos como dias santos…). E vale a pena! A ingenuidade do comissário, a sua humanidade, a sua fraqueza absolutamente corriqueira. Pronto, já perceberam que não vou acrescentar nada de fundamental à peça. Eu gosto é de o ver trabalhar. É pecado? Paciência.
E já agora, quando veremos o último filme de Moretti, com Michele Placido? Para quem não sabia, o actor dirigiu o filme Uma viagem chamada amor, com Laura Morante (O quarto do filho) e Stefano Accorsi (o Salgueiro Maia dos Capitães de Abril, de Maria de Medeiros). Quem quiser venha vê-lo a Almada, Fórum Romeu Correia, dia 14 de Junho. Será mesmo o mesmo Placido? Verifiquei que sim, que também realiza. E que nasceu em 19 de Maio de 46. Data de nascimento antiga, dirão os mais novos. No ponto, digo eu… Mas o 19 de Maio é uma coincidência engraçada. Daqui a um post ou dois verão porquê!

Resta a pergunta: que fazer quando termina um episódio de o Polvo e não se tem nada ali à mão de semear? Até nisso a RTP1 foi desta vez inteligente: presenteou-nos com Chocolate e uma Juliette Binoche sempre doce – já para não falar do cigano que aparece a meio do filme. Nem me importava que o cigano me levasse, se fosse este…
Bom, meninos e meninas, comam chocolate, que pelo menos enganam o estômago…