Monday, July 18, 2011

Brilharetes

E deixamos tudo para trás e vamos à procura de extra-terrestres; deixamos os pobres, os mal cheirosos, fugimos até do rasto deles, esquecemos os cães abandonados ao desespero da falta de dono (ainda que mau, ainda que rude, o dono era a sua segurança) e vamos todos fazer outra coisa – lavar os dentes, lavar os cus para esquecer que o nosso próprio cheiro é igual ao dos pedintes sem água nem sabão, com o desespero a minar-lhes as réstias de vida que teimam em não abandoná-los, as noites gélidas a arrastarem-se por eternidades, infernos sem fim – porque não vem a morte de mansinho servir-lhes de cobertor? Pergunto-me e respondo logo: porque não há deus!
(A propósito de Brilharetes, uma peça que vi no festival de Almada 2011)