Wednesday, April 30, 2008

crónica sombria

Amigos que o foram (ou não)

Sabemos como a vida é capaz de nos dividir caminhos e fazer mergulhar em forçada solidão. Como se encarrega de nos enredar em turbilhões sombrios de deveres e haveres. Como as amizades se perdem na distância que não se pode percorrer ou no tempo que não pode volver. Aceitamos tudo isto como natural e imprescindível ao nosso avanço pela vida dentro.
Conhecemos a ordem implacável do mundo que nos obriga a velocidades maiores que o nosso passo e no entanto…
Se de repente nos surge um desses fantasmas do passado que não esquecemos, alguém que nos acompanhou e que perdemos sem razão aparente, queremos recuperar o tempo perdido, pô-lo de novo a fazer parte do roteiro dos nossos dias.
Dói quando tentamos e percebemos que no outro existimos já e só apenas em catálogo, numa prateleirinha bem colocada do armário, à qual ninguém limpa o pó e pela qual se passa sem olhar.
Dói, apesar de “natural”, dói, apesar de ser exactamente isso o que esperamos desse fantasma que tínhamos feito tudo para esquecer e afinal ainda nos acena, enganador. Dói corrosivamente, sem explicação racional, até que o esquecimento repõe a tranquilidade desejada. Fica-se mais pobre, sem remédio.

4 Comments:

Blogger Martinika said...

May 02, 2008  
Blogger Contacomigo said...

Ainda existe uma outra faceta de tudo isto: o saber-se que esses fantasmas são de pele e osso. Além de espírito, possuem também nessecidades de outra ordem. Nem que seja a de continuarem a caça para reproduzirem a espécie. Aí é que se começa a diferenciar. É aí que nasce a matéria prima desses catálogos invisíveis, dessas prateleiras cheias de nada.
De resto é muito saudável da tua parte clamares pela recuperação de amizades. Mas que tem remédio, tem sim. Pega no telemóvel e diz-lhe isso na cara. Creio que tens argumentos convincentes e que a tua maneira de pores o dedo na ferida já é meio caminho andado...
Beijinhos.

May 09, 2008  
Blogger Elsa Gonçalves said...

são avatares em prateleiras ...

nunca e sempre lá!

Gostei!

Gosto muito da prosa, daquela que te sai pela ponta do dedo, qual borboleta na primavera tardia.

Gosto da tua coragem de por a borboleta a esvoaçar!

Gosto da tua cabeça arrumada, da capacidade de inventar prateleiras e de as decorar ... com ou sem pó...isso é feito pelo tempo e o tempo vale o que quisermos que valha!

Gosto da tua paixão e da tua raiva!

E tudo o que mais disser é só pra mariquice, por isso me quedo.
Bj
maria

June 04, 2008  
Blogger Kahlix said...

Leio o que escreveste no meio do trânsito matinal, e só me ocorre devolver-te a pergunta que me fizeste há uns dias sobre o meu texto...
Embora já calcule a resposta.
Se precisares de ajuda para dar uns pontapés numas estantes, conta comigo!

April 27, 2009  

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