Brilharetes
E deixamos tudo para trás e vamos à procura de extra-terrestres; deixamos os pobres, os mal cheirosos, fugimos até do rasto deles, esquecemos os cães abandonados ao desespero da falta de dono (ainda que mau, ainda que rude, o dono era a sua segurança) e vamos todos fazer outra coisa – lavar os dentes, lavar os cus para esquecer que o nosso próprio cheiro é igual ao dos pedintes sem água nem sabão, com o desespero a minar-lhes as réstias de vida que teimam em não abandoná-los, as noites gélidas a arrastarem-se por eternidades, infernos sem fim – porque não vem a morte de mansinho servir-lhes de cobertor? Pergunto-me e respondo logo: porque não há deus!
(A propósito de Brilharetes, uma peça que vi no festival de Almada 2011)
(A propósito de Brilharetes, uma peça que vi no festival de Almada 2011)
3 Comments:
Isto é prosa com muita classe. É neorealismo, é mais sal na sopa da vida.
obrigado, Arménio, que simpático!
Consegues escrever textos tao bonitos e tão simples, tão cruelmente reais ao mesmo tempo!
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