Wednesday, April 30, 2008

crónica sombria

Amigos que o foram (ou não)

Sabemos como a vida é capaz de nos dividir caminhos e fazer mergulhar em forçada solidão. Como se encarrega de nos enredar em turbilhões sombrios de deveres e haveres. Como as amizades se perdem na distância que não se pode percorrer ou no tempo que não pode volver. Aceitamos tudo isto como natural e imprescindível ao nosso avanço pela vida dentro.
Conhecemos a ordem implacável do mundo que nos obriga a velocidades maiores que o nosso passo e no entanto…
Se de repente nos surge um desses fantasmas do passado que não esquecemos, alguém que nos acompanhou e que perdemos sem razão aparente, queremos recuperar o tempo perdido, pô-lo de novo a fazer parte do roteiro dos nossos dias.
Dói quando tentamos e percebemos que no outro existimos já e só apenas em catálogo, numa prateleirinha bem colocada do armário, à qual ninguém limpa o pó e pela qual se passa sem olhar.
Dói, apesar de “natural”, dói, apesar de ser exactamente isso o que esperamos desse fantasma que tínhamos feito tudo para esquecer e afinal ainda nos acena, enganador. Dói corrosivamente, sem explicação racional, até que o esquecimento repõe a tranquilidade desejada. Fica-se mais pobre, sem remédio.