Thursday, November 30, 2006

Toponímia



Para quem julgava que este blog não tinha carácter instrutivo: o tema é toponímia!

Sunday, November 19, 2006

A prenda enjeitada

Aquilo pareceu-me mal. Não disse nada, mas o que se passou ofendeu-me. Nem posso jurar que a intenção dela fosse essa, mas o meu amor próprio saiu vexado, ferido.
Não se deprecia assim uma prenda...
Bom, mas o melhor é contar a história do princípio.

Eu tinha perdido o contacto com A. Durante anos a fio não soube nada dela, as voltas da vida a atrapalharem-me a disposição para procurar antigos amigos. Era essa a minha culpa, a minha justificação para não mais a ter procurado. E, julgava eu, essas seriam também as razões dela. Quando um dia nos encontrámos por acaso numa rua da Lapa, concluímos que os nossos locais de trabalho afinal ficavam bem perto. De imediato me prontifiquei a ir visitá-la ao dela. Combinámos e lá fui eu, no dia aprazado.
Pensei que iríamos almoçar juntas. Mas não lhe era possível. Conversámos, sem sair do posto de trabalho dela, que atendia público, mas não tinha, àquela hora, quase ninguém. Mas aquele reencontro inesperado, tão desejado por mim, teve logo ali um sabor intenso a desilusão, a prato requentado. Qualquer coisa tinha irremediavelmente mudado. Pensei que talvez eu também tivesse mudado. Ainda a convidei a visitar o meu local de trabalho, na altura situado num magnífico parque verde no meio da cidade (um serviço público em forma de jardim, no dizer de um colega espirituoso) . Mas ela nunca lá foi. Ou se foi (não posso jurar) palavra que não me lembro de nada. A desilusão e a incomodidade do nosso desajeitado reencontro manteve-se intacta, mas, como se aproximava o Natal, resolvi fazer mais uma tentativa. Comprei um boneco de peluche branquinho para oferecer à filha dela. (Lembrava-me de um brinquedo que ela tinha oferecido ao meu mais velho e que eu, por lhe ter perdido o rasto, nunca havia retribuído.) E fui, toda contente, entregar a prenda. A reacção dela foi um enorme balde de água fria: que a menina já tinha muitas prendas, que aquela ia directamente para o armário sem ser aberta, à espera de melhores dias, para a bebé não se confundir com tantas "coisas". A minha prenda, comprada com amor e carinho, ficava, assim, no mero rol das "coisas" à beira da inutilidade. Como sempre em situações semelhantes, não arranjei nada para dizer. Apenas tratei de sair dali o mais rapidamente possível. Nunca mais lhe telefonei. Ela a mim, também não.
Soube muito mais tarde que A. deixou de se dar e até de falar com as pessoas do nosso grupo, por razões políticas ou outras, não sei. Mas a mim, que não nutro apreço particular por Zitinhas Seabras de meia tigela, nem foi isso o que me afastou! O "problema" foi mesmo a prenda enjeitada! Acreditem vocês ou não...

Wednesday, November 08, 2006

Era uma vez uma história

Era uma vez uma história bilingue, com um trocadilho feito em duas línguas, contada primeiro dentro da minha cabeça, a duas línguas, recontada depois só numa… em verdade as duas línguas ficaram, também na minha cabeça, amigas quase irmãs, podendo facilmente, cá dentro, substituir-se e auxiliar-se uma à outra.

De facto a história nasceu a duas línguas com gente de dois países, lá bem longe, do outro lado da Europa, onde vivi dos melhores anos da minha vida…

Foi lida na rádio, por uma voz que se prestou primeiro a sentir as palavras alheias como se suas fossem e depois a dar-lhes luz e corpo, a fazê-las ecoar dentro de todos e cada um de nós.
Foi contada, recontada e agora mesmo impressa em livro, ali, as letrinhas bem alinhadinhas, preto no branco, como manda a lei …

Agora, do lado de lá, onde a história nasceu, pedem-me que a mande de volta às suas origens, que a traduza, embora algumas partes dela não careçam de tal, já são em búlgaro no original. Acho justo, afinal a história é mesmo bilingue, apenas o meu talento linguístico naquela língua continua a ser fraco, artigos definidos e ortografia deixando muito a desejar, vocabulário escasso… aqui é que era precisa uma mãozinha do Montanela e afinal desprezei-o.

Depois da história lida na rádio ainda procurei a outra das suas protagonistas, a que riu a bom rir no meio dela e que não mais encontrei. Procurei-a na casa onde sei que ainda mora, perguntei por ela no café mais próximo, que seguramente não frequenta, mas primeiro escrevi-lhe, uma breve carta com os meus contactos, para a morada que ainda tinha (a carta não me foi devolvida, o que significa que foi entregue, acredito nos correios). Soube dela, da minha colega de três anos de estudo, no tal café, deixei-lhe um recado pendurado na corda de estender a roupa e nada… nada veio de volta, nem um telefonema, um Olá como vais, nada mesmo nada. Assim resignei-me a voltar sozinha à nossa história, assumindo que a vou continuar a contar sozinha, que a vou lembrar sozinha, uma história de duas pessoas com uma ausência. Não me pesa, apenas estranho o quanto algumas pessoas não se deixam tocar nem pela própria vida que viveram. E espero continuar a estranhar, até ao fim dos meus dias.
Boa sorte, Maria!