Friday, May 11, 2007

Cais

Confesso - às vezes escrevo umas coisitas. A de hoje já tem uns anos, mas mandei-a publicar há dias.

CAIS

Cais dos paquetes
das longas esperas
dos braços cansados
estendidos em acenos
Cais das lonjuras
das cadências
das vagas que vão
mas não chegam,
onde nunca
é a palavra mãe,
a certeza das certezas.

Cais das promessas,
dos navios iluminados
na palidez do rio
dos sonhos estilhaçados,
dos marinheiros tristes,
assombrados
dos desejos mais secretos
e de secretas vinganças.

Cais dos amores proibidos
cais das senhoras de chapéu
das matinés, dos matizes,
das palavras sussurradas
ao ouvido dos amantes,
do fim da esperança.

Cais dos poetas abandonados
Cais de todos os começos
de todos os cansaços

dos desafios impossíveis
dos temidos reencontros
(e se eu agora já não sou quem tu esperas?)
Cais do bulício das bagagens,
dos caixotes, das amarras,
bombordo e estibordo de mim mesma
anseio de partir,
partir, partir.

Cais das marés adiadas,
dos acenos encenados

Fico em ti ancorada
à espera
do silvo que me ordene
a mais sonhada das partidas
estática, impune,
agrilhoada
com âncoras de sal.

2 Comments:

Blogger Elsa Gonçalves said...

vi-te no cais. estavas sentada, serenamente. estava frio e a neblina que vinha das águas só deixava adivinhar uma silhueta.
disse-te para apanhares o primeiro navio!!!
em que mares navegarás agora??
Beijinho
Não te sei há muito tempo e tenho saudades.

May 15, 2007  
Blogger Alice said...

eu sei que andas por aí, maria, sempre por perto, mesmo que estejas longe. Nós por cá, resistindo. Começa agora a ver-se o fim, muito lá ao longe, mas já se vê. Sou boa na ponta final das corridas. Alguma esperança que também vou ganhar esta, embora a próxima já esteja na calha...

May 15, 2007  

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