Friday, February 09, 2007

para desanuviar, hoje falo de nascimentos!

Dá-se um jeito

Sempre que passo naquela rua, à porta dela, lembro-me do que nos aconteceu na véspera do nascimento da minha filha. Juntas pelo acaso na sala de partos do Garcia de Orta, estávamos ambas à espera que os nossos bebés se resolvessem finalmente a sair da água quentinha das nossas barrigas. Eu, com 36 anos, ela com 42. Para mim 2º parto, para ela 3º ou 4º, não me lembro. Em todo o caso já considero estoicismo ir além do segundo filho e Sadie estava prestes a passar essa barreira. Mas dilatação nada, nem do lado dela, nem do meu…
Estávamos naquilo havia horas, ligadas a toda a espécie de aparelhagem que indicava o estado das nossas atrasadas crias, que não se queriam deixar ver e no entanto se encontravam clinicamente óptimas, apenas caprichosamente preguiçosas. As enfermeiras entravam, olhavam os monitores do muito equipamento que ocupávamos, encolhiam os ombros e iam-se embora com a mesma pressa com que tinham entrado.
De repente, Sadie começa a chamar por ajuda. A enfermeira, que de facto tinha feito o toque havia menos de meia hora, não ligou nenhuma. Mas lembrou-se que ainda não tinha procedido à leitura de um texto sobre a epidural, formalidade imprescindível, já que era preciso dar conhecimento às parturientes sobre este tipo de analgesia (que já se aplicava nessa altura no Hospital, quando solicitada). Passa por Sadie e estende-lhe o papel onde constavam os ditos esclarecimentos. Para meu espanto, Sadie revela que não sabe ler! (ou então, pensei mais tarde, foi o que disse para se livrar daquele estorvo).
Então, com o mesmo papel na mão, a enfermeira dirige-se a mim e pergunta: - E a senhora, sabe ler?
- Dá-se um jeito! respondi, com o restinho que sobrava do meu sentido de humor, já muito abalado pela longa espera.
- Então, faça-me um favor, leia-me isto alto para aquela senhora e para si! Foi o que fiz, ou pelo menos, tentei.
Com Sadie aos berros (desculpem-me os defensores das várias teorias do parto sem dor, mas a verdade é que aquilo a dada altura dói e pronto) eu continuava a ler as vantagens e desvantagens da epidural, das quais, confesso, não me lembro népia, apenas que no meu caso concreto a dita foi uma benção dos céus…
O corrupio de médicos e enfermeiras adensou-se de repente em torno de Sadie, finalmente levada a sério. A dilatação estava completa!
O bebé nasceu ali mesmo, nas boxes colectivas, por detrás de uma cortina corrida à pressa. Nem houve tempo para a mudança para uma cabina individual! Para além dos médicos e da mãe, fui eu quem primeiro o ouviu gritar. Era um rapaz!
A minha filha só nasceu muitas horas depois, de cesariana, e também gritou bem alto, nessa hora e nas noites de muitos e muitos dos dias seguintes…

0 Comments:

Post a Comment

<< Home